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    Disney Epic Mickey - Wii

    Luigi
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    Disney Epic Mickey - Wii Empty Disney Epic Mickey - Wii

    Mensagem por Luigi Sáb 08 Jan 2011, 18:02

    Análise por Vítor Alexandre
    Nota 8

    "Long time no see!" é a expressão que nos vem à cabeça logo que nos é dado o segmento introdutório , quando vemos Mickey, uma das maiores e incontestadas personagens do universo Disney, tomar o lugar de personagem principal. A descansar no quarto, com um livro em mãos, subitamente ergue-se num ímpeto de curiosidade motivado por um encantamento que o chama a partir do espelho. Com curiosidade de rato e como já se lhe conhece a feição, decide passar para outra dimensão, atravessando o espelho "mágico" e entra numa espécie de "twilight zone".

    A curiosidade leva-o até uma mesa de trabalhos onde Yen Sid presta os últimos retoques daquilo que é parque temático para personagens esquecidas e pouco utilizadas da Disney. Mickey é atraído pelo fascínio das pinturas depois de Sid recolher aos aposentos, mas acaba por borrar a pintura ao entornar tinta sobre o parque. Ainda procura corrigir o erro lançando diluente sobre a mesa, mas nesse instante, Yen Sid topa que algo não vai bem e decide voltar atrás. Mickey consegue escapar. Aparentemente tudo se resolve, até que, mais tarde, acabará engolido e atirado para a "wasteland".

    Wasteland é um mundo composto por desperdícios, essencialmente por personagens do universo Disney que, apesar de aparecerem em curtos segmentos animados, nunca conquistaram a adesão do público e da audiência. Em muitos casos, foram construídas personagens, com nome e identidade, mas que em virtude de um processo de evolução até à versão definitiva acabaram na lata de reciclagem. É nesse mundo, desconcertado, obscuro e semi-colorido que Mickey terá de activar as suas funções enquanto pintor, repondo o aspecto inicialmente previsto por Yen Sid, numa demanda intensa contra Oswald, o "lucky rabbit", que o levará a percorrer imensos espaços e parques temáticos da Disney, revisitar vetustas películas animadas sob um efeito 2D de plataformas e muitas "quests" ao bom estilo das plataformas.

    Porém, a peculiaridade e um dos maiores ganhos da obra, reside também na construção e recuperação das animações da Disney, sem cair no facilitismo e na nota "cliché". Aliás, este é um jogo que também acrescenta um tom humorístico à peça. Por exemplo, numa perseguição a Oswald, irão passar por uma localidade onde Mickey tem a sua casa. Num dos jardins Mickey encontra a cara do Pateta dentro de uma redoma, desfigurado, sem um olho, e que lhe revela ter sido vítima de um cientista louco que o desfez em pedaços (o mesmo que ia desfazendo Mickey) e o distribuiu por diferentes parques e áreas da "wasteland". São imensos os momentos deste género e é desta forma que se formam "side quests", como seja recuperar as diferentes partes de Pateta e devolver-lhe a forma original.

    "Wasteland" é um mundo soturno e imprevisível. Numa montanha onde se acumulam resíduos e sobras, como caixas, pins que flutuam e outros objectos com Mickey estampado, encontrarão dois cartuchos de jogos; um da NES e outro da SNES, abandonados e desgastados. Pedaços de memórias e últimos exercícios do rato enquanto principal protagonista.

    Warren Spector idealizou e segurou bem o ambiente e contexto narrativo que envolve Mickey. O fio e seguimento do argumento complica por vezes, no entanto, há vários tipos de cenas animadas, desde as mais elaboradas, até uma espécie de gravuras animadas quando Mickey se junta aos Gremlin para recolher informações e outros dados relevantes, mas por vezes fica a sensação que a história podia estar melhor contada.

    A construção dos parques temáticos obedece a um traço muito peculiar e todos estão deliciosamente decorados com motivos relacionados com o mundo Disney, habitando neles personagens cuja interacção é fundamental. Antes da intervenção de Mickey, os parques têm um aspecto desconfigurado, sombrio semi-pintados, cabendo a Mickey devolver-lhes vida e assim contar com o apoio dos guardiães, uma espécie de espíritos que auxiliam o nosso protagonista a descobrir objectivos e derrotar oponentes.

    Epic Mickey é sobretudo um jogo de plataformas, mas composto por elementos que lhe conferem uma especial notoriedade, nomeadamente a utilização do pincel, da tinta e do diluente para modificar o espaço envolvente. Enquanto jogo de plataformas "a solo", seria comum a outras referências do género, nem oferece muito mais se excluirmos o conceito artístico. A transição entre plataformas é essencial e há muito para efectuar em termos de activação de mecanismos, sendo determinante manter uma percepção do ambiente. Nesse aspecto é agradável percorrer alguns desafios e arriscar chegar a zonas aparentemente inacessíveis. Desde logo é a partir da utilização da tinta e diluente que Mickey poderá "trabalhar" nos cenários, modificando-os através da descolorização, criando zonas transparentes para dessa forma aceder a novas áreas, como utilizando a tinta pode criar pontes e outras plataformas.

    Neste contexto de plataformas, mecanismos e "quests" são evidentes as influência de Super Mario Sunshine ( para não deixar de referir outros jogos como Zelda e Banjo & Kazooie) o grande canalizador, e as bases para a comparação situam-se não apenas na técnica da pintura e do diluente para modificar o aspecto visual das áreas, como a movimentação de Mickey encontra muitas semelhanças com o Mario tridimensional, através do duplo salto, na ligeireza de movimentos e até no aspecto, apesar de estarmos perante o rato mais conhecido da animação norte-americana. Contudo é um "feeling" que está lá e isso são boas notícias.

    O sistema de combate não está mal implementado. Há imensas criaturas oponentes a Mickey, especialmente as que lhe atiram com diluente e lhe retiram pontos de vida. Outras como os coelhos azuis de Oswald que agarram Mickey e o puxam para a piscina de tinta tóxica. Outros adversários, para os eliminar, Mickey terá de fazer pontaria e acertar com diluente, três vezes. Ora, nalguns casos, este processo é particularmente complexo quando há bastantes inimigos num espaço apertado. A câmara nem sempre promove o melhor ângulo e não raras vezes ficamos sem saber onde se encontram os inimigos, para não dizer à inteira mercê. Algumas vidas perdem-se desta forma. O botão C permite orientar imediatamente a câmara para a frente, enquanto que o "d-pad" facilita a observação manual ao redor. Sendo alternativas úteis nos momentos de exploração, não facilitam nas batalhas.

    Os indicadores de tinta e de diluente podem ser incrementados à medida que o protagonista avança pela trama. Nos recantos das áreas há sempre objectos que escondem uma pluralidade de itens; pontos de vida, suplementos de tinta e diluente, pontos para películas de cinema, bem como alguns "achievements", estes mais difíceis de localizar. Ainda que fiquem desprovidos de tinta ou diluente após uma utilização mais intensiva, o jogo activa automaticamente um pequeno fundo, raramente deixando o jogador à procura de tinta ou diluente. Usar estes elementos pode ser particularmente útil para montar algumas "ratoeiras" aos inimigos, retirando-lhes suporte/chão ou atacar com tinta para os deixar temporariamente adormecidos e propensos para alguns ataques corporais do Mickey.

    As demandas, principais e opcionais, formam o corpo da aventura. Encetando diálogo com personagens que habitam nos diversos parques ou com Gremlin Gus, um dos parceiros de Mickey ao longo da jornada, ficam disponíveis e activas uma série de missões. O recurso ao mapa e à actual demanda acaba por ser uma constante. Os saltos entre parques operam-se normalmente através de pequenas curtas metragens (música e imagem). Recuperando antigos episódios e protagonistas (alguns com Oswald como cabeça de cartaz), Mickey terá de percorrer pequenos segmentos ao bom estilo das plataformas em 2D, caracterizadas com os elementos tradicionais dos pequenos filmes, sempre a preto e branco.

    Tomando em linha de conta o público alvo, querendo convencer também uma boa parte do público infantil para dar a conhecer uma personagem icónica do cinema animado ocidental, os produtores facilitaram significativamente. Algumas missões exigem riscos acrescidos, mas quase sempre estão espalhados pontos de recuperação de vida. Além disso, ao descobrir Gremlins reclusos em cápsulas e devolvendo-os à liberdade, eles de imediato resolvem o problema da missão principal. Todavia e dada a boa extensão e quantidade de missões, Epic Mickey mantém sempre um salutar nível de satisfação. A banda sonora é admirável e uma mais valia.

    Warren Spector fez um bom trabalho neste regresso de Mickey aos videojogos, principalmente pelo argumento que envolve Mickey numa trama obscura. E é dentro desse traço maquiavélico que operam ferramentas que acrescentam um interesse suplementar ao tradicional percurso baseado nas plataformas. Este é um épico Mickey que consegue fugir a convenções regulares, mesmo que não sufrague a complexidade de puzzles e densidade de "quests" de um Zelda e o brilhantismo de plataformas de um Mario Galaxy. Ainda assim, um dos momentos altos da carreira de Mickey nos videojogos, a valer sobretudo pelo argumento e pelo "design" elaborado, nesta grande produção, bem conseguida, para a Nintendo Wii.

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